Tema 2





1-Caracterização das relações precoces
        Para se compreender as capacidades de relação com os outros, temos que analisar as relações precoces do ser humano. O tipo e a qualidade das relações que o bebé estabelece no início da vida, as designadas relações precoces, vão influenciar o seu processo de desenvolvimento fisiológico e psicológico

Imaturidade
Quando nasce o ser humano é caracterizado como um ser imaturo, essa imaturidade é um elemento decisivo no processo de desenvolvimento da espécie. Como ser prematuro o bebé necessita de cuidados dispensados pelos progenitores ou outros cuidadores, nomeadamente nos primeiros anos de vida, para poder sobreviver física e psicologicamente.

As competências básicas do bebé
O recém-nascido apresenta um conjunto de competências comunicacionais que estimulam aqueles que o rodeiam a satisfazerem as suas necessidades. De entre as várias estratégias usadas pelo bebé para obter os cuidados indispensáveis à sua sobrevivência e bem estar destacam-se : choro, riso, vocalizações, expressões faciais, agarrar, mamar e seguir com o olhar. Estas estratégias manifestam as necessidades do bebé (protecção, segurança e afecto) e procuram a resposta que é a obtenção da sua satisfação


Competências básicas do mãe

 A mãe também tem competências na relação de vinculação. O processo de regulação mútua significa a capacidade da mãe comunicar eficazmente com o bebé, quer dizer, a mãe interpreta/comunica correctamente os seus estados emocionais e responde de forma adequada às solicitações do seu bebé. Se a mãe não responder positivamente às solicitações do bebé, podem desenvolver-se sentimentos de desconfiança que se manifestam por medos, receios e insegurança.
A boa mãe comunica poeticamente com o bebé. Transforma as inquietações em segurança, o desconforto em bem estar, torna tolerável a angústia, faz o bebé sentir-se amado, compreendido e protegido.



Interacção bebé-mãe


As relações precoces analisam-se em Psicologia, porque sem essa análise não se compreendem as capacidades de relação com os outros. O tipo e a qualidade das relações que o bebé estabelece com a mãe serão determinantes na sua personalidade a vários níveis: psicológico, físico, emocional e social. Uma boa relação de vinculação com a mãe (e/ou figuras maternantes) conduzirá a um adulto equilibrado, com auto-estima e autónomo, capaz de construir inter-relações gratificantes.
A relação entre a mãe e o bebé inicia-se muito antes do nascimento, pois assim que descobre que está grávida começa a fantasiar com o bebé, comunicando com ele, e estabelecendo desde logo uma relação, embora não real. Gradualmente, esta relação torna-se real e criam-se expectativas para com o bebé que lhe serão comunicadas desde o nascimento. Se essas informações forem positivas o bebé sentirá isso e a vinculação entre ambos será segura.



Vinculação:
A Vinculação é a necessidade de criar e manter relações de proximidade e afectividade com os outros, de o bebé se apegar a outros seres humanos para
assegurar protecção e segurança. A relação privilegiada que o bebé estabelece com a mãe é decisiva para o seu desenvolvimento físico e psicológico, a proximidade física do progenitor é uma necessidade inata, primária, essencial ao desenvolvimento mental do ser humano e ao desenvolvimento da sociabilidade que responde a duas necessidades: protecção e sociabilização; três tipos de vinculação:
1.              segura: influencia positivamente no desenvolvimento afectivo, psicológico do bebé com o efeito das suas relações futuras
2.               evitante: indiferentes à separação da mãe e ao seu regresso
3.               Ambivalente/resistente: manifestação de ansiedade mesmo antes da mãe sair e perturbação quando abandona a sala, hesitando entre a aproximação e o afastamento dela quando regressa.

Vinculação e Equilíbrio Psicológico:
O processo de vinculação tem uma importância fundamental no desenvolvimento físico e psicológico do bebé. A maneira como a mãe interpreta e responde às necessidades orgânicas e os estados emocionais do seu filho, vão influenciar o bebé não apenas naquele momento mas também no futuro, sendo muito importante a vinculação na constituição psicológica do bebé. Os modelos de representação de si próprio e da mãe, através dos quais o bebé percebe o seu universo, influenciam as suas percepções e conduzem as suas acções. Uma vinculação securizante corresponderá a uma melhor regulação emocional, ou seja, vai favorecer a confiança, a capacidade de ultrapassar as dificuldades, em se sentir bem consigo mesmo e com os outros, desempenhando assim o papel de regulador emocional, designadamente face ao stress. Vai permitir uma gestão mais autónoma dos conflitos que fazem parte do crescimento psicológico. No entanto, esta vinculação não tem um carácter determinista; no desenvolvimento psicossocial da criança há muitos outros factores em jogo ao longo da vida.


BION: “A boa mãe comunica poeticamente com o seu bebé”
É a partir do modelo continente-conteúdo que Bion explica a relação mãe-bebé. Este modelo constitui um espaço de pensamento e de comunicação entre a mãe e o bebé
O bebé vivencia medos e angústias (conteúdo) que a mãe enquanto depositária acolhe os sentimentos contraditórios vividos pelo filho, e devolve-lhe segurança, bem-estar e conforto fazendo sentir-se amado e compreendido, fundamental ao equilíbrio psicológico.
BOWLBY: “As relações precoces do bebé”
As investigações de Bowlby destinaram-se a analisar as relações entre as perturbações de comportamento e a história da infância. Esta análise permitiu concluir que a vinculação é uma necessidade básica (como a fome e sede) que tem de ser satisfeita de forma a criar relações de proximidade e afectividade com os outros, obtendo-se o sentimento de protecção e de segurança. Critica-se a Bowlby o facto deste ter centrado as suas investigações no papel da mãe.
AINSWORTH: “A importância das primeiras vinculações” e a experiência “situação estranha”
A psicóloga Mary Ainsworth aprofundou o estudo da relação de vinculação e distingui três tipos de vinculação: vinculação segura( a mais positiva e a que influencia mais a criança e que consiste no facto de quando a mãe sai da sala , a criança chora, mas quando a mãe regressa a criança deixa de chorar); a vinculação evitante (a criança fica indiferente à ausência da mãe); vinculação ambivalente/resistente (o bebé mostra ansiedade antes da mãe sair e perturba-se quando esta sai da sala, ficando hesitante quando ela volta, ora se aproxima, ora se afasta).
Os estudos desta psicóloga mostraram a importância das primeiras vinculações; a sua qualidade influencia as relações que a criança vai estabelecer no futuro.
A principal crítica apontada ao estudo desta psicóloga foi o facto de não ter tido em conta condicionantes de ordem cultural. A vinculação securizante favorece aos seres humanos a confiança em si próprios, autonomia e a construção da identidade. É um regulador emocional, sobretudo em relação às situações de stress.
HARLOW: “A necessidade básica de contacto e conforto” e o “síndrome de isolamento”
As experiências de Harlow levadas a cabo com crias de macacos , simulando uma relação entre crias e mãe- macaco, permitiu concluir que as crias têm, essencialmente, necessidade de toque físico, sendo este mais importante que a necessidade de alimentação na construção da relação de vinculação.
A privação do contacto humano traduzir-se-ia em perturbações físicas e psicológicas, dando lugar a desequilíbrios que afectam as relações interindividuais futuras (nomeadamente, o desempenho enquanto adultos das figuras maternantes)

SPITZ “ A necessidade de laços e de contactos afectivos entre o bebé e a mãe” e o “hospitalismo”
René Spitz estudou o efeito das carências afectivas nas crianças e concluiu que quando falta relação com uma figura adulta as crianças desenvolvem um fenómeno designado por hospitalismo.
O Hospitalismo é um conjunto de perturbações vividas por crianças institucionalizadas e privadas de cuidados maternos: atraso no desenvolvimento corporal, dificuldades na habilidade manual e na adaptação ao meio ambiente, atraso na linguagem, menor resistência a doenças e apatia.
O hospitalismo ocorre quando a criança não se relaciona correctamente com um adulto próximo. O fenómeno não acontece a todas as crianças porque há crianças que, apesar das circunstâncias negativas, conseguem desenvolver-se equilibradamente.
O conceito de resiliência revela como o homem é capaz de contrariar e adaptar-se a novas situações, mesmo que adversas. A família ou então um adulto significativo ajudam a resistir melhor a situações traumatizantes.

Críticas à teoria da Vinculação:

Aos limites socioculturais: Os laços de vinculação não têm que estar necessariamente centrados no papel da mãe, para que seja possível falar de segurança e equilíbrio. A partir de um paradigma de família e de organização social que favoreça as relações de dependência e interacção social assentes nas vinculações múltiplas, e ou por opções educacionais, poder-se-á ter igualmente um comportamento desejável no bebé. também o que é desejável, e logo as expectativas que a mãe/família/sociedade têm em relação aos mais novos podem dar lugar a modelos de avaliação diferenciados.

 Ao conceito de mãe: considera-se actualmente que não existe uma predisposição biológica específica para a vinculação com a mãe biológica e, atendendo ao modo como a sociedade se encontra organizada, reconhece-se a existência de outros cuidadores que, enquanto agentes maternantes, dão lugar a vinculações múltiplas. Por outro lado, a mãe biológica por inexistência e/ou disfunção das competências parentais poderá não responder ao conflito vivenciado pela criança entre confiança/desconfiança, e logo não assegurar um ambiente consistente, sensível, acolhedor e apoiante.

A Importância da relação de Vinculação – o papel das Relações Precoces no Tornar-se Humano

1. Da Díade à Tríade:

A relação do bebé com o pai caracteriza-se pela passagem da díade (relação mãe bebé) à tríade (relação mãe-bebé-pai). O tom de voz do pai, o seu toque, também contribui para o desenvolvimento psicológico do bebé. O modelo de identificação masculina é fundamental para os rapazes e raparigas, influenciando as suas futuras relações. Por outro lado, a relação do bebé com o pai é igualmente positiva para este último, contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal, estando em causa o que se designa por “socialização dos pais”, já que a comunicação ao possuir um carácter bidireccional é de reconhecer a acção do bebé sobre o pai.


2. Vinculação e equilíbrio psicológico:

a. domínio afectivo

regulação das emoções: A imagem que cada indivíduo irá ter de si próprio, a relação com o corpo, a construção da sua afectividade e sociabilidade dependem dos primeiros vínculos no desenvolvimento fisiológico e psicológico.
sexualidade: as tensões e inibições excessivas resultam de um desequilíbrio experienciado ao nível das relações precoces. Estas afectarão o modo como vivenciará a sua intimidade/sensualidade e, logo, a sua saúde física e mental.
inter-relações sociais: Uma vinculação secularizante, positiva, favorece uma confiança em si mesmo e a capacidade de ultrapassar os obstáculos e as situações conflituantes que se lhe deparem. Enquanto regulador emocional, a vinculação permite a construção de relações positivas com os outros. A gestão dos conflitos, a auto-estima, , a capacidade de resistir ás adversidades e, logo, o crescimento psicológico aumentará o grau de confiança em si e nos outros, permitindo a construção de interacções gratificantes.


b) domínio conativo: entendido como uma disposição interna para a acção, traduz-se no desejo, vontade, esforço ou intenção dirigida para a exploração do meio
autonomia: este desejo de se afastar das figuras de vinculação a partir do interesse pelas actividades exploratórias, não conduzirá a uma relação de insegurança, ante a expectativa adquirida pela vinculação securizante, de que a protecção se manterá, podendo facilmente regressar face a uma possível insegurança/ameaça..
individuação: dependerá igualmente da vinculação, na medida em que a confiança e segurança proporcionadas pela relação de vinculação proporcionarão a disponibilidade para a afirmação da identidade. O processo que torna cada indivíduo único, resulta da capacidade de se distinguir e de se afirmar como um outro, tal processo será construído em relação, nomeadamente ao nível da vinculação. A relação de proximidade, afecto de construção de uma segurança proporciona igualmente a capacidade de cada um se tornar “indivíduo”.


Consequências das perturbações nas relações precoces:
Tal como referiu Harlow, face à ausência de vinculação, as fêmeas de macaco que eram inseminadas artificialmente não tinham qualquer ligação aos filhos, o que implicava que a privação de convívio precoce daria lugar a danos sociais e emocionais no decorrer do desenvolvimento posterior. (Poder-se-á, contudo, referir uma inversão da situação, os primatas foram misturados com macacos jovens e em pouco tempo começaram a responder às brincadeiras, e as fêmeas que trataram mal os filhos na 1ª ninhada, já não o fizeram nas seguintes e mostravam-se mais receptivas aos machos. Assim, crianças que foram transferidas para orfanatos em que lhes davam carinho e atenção melhoraram significativamente no âmbito intelectual e social acentuando progressos nos índices de inteligência).

fontes: ficha de trabalho realizada na aula e manual de psicologia










Processos fundamentais da cognição social

PowerPoint sobre a cognição social (prof. Maria João Mendes)
































Processos de influência entre os indivíduos














Processos de relação entre os indivíduos e os grupos

A preencher...