A genética é a ciência que estuda o processo de transmissão dos caracteres dos progenitores para a sua descendência.
A genética de comportamento é aquele que vai ser abordada neste tema, uma vez que permite a investigação das influências hereditárias na forma como os indivíduos são e se comportam.
1-Agentes responsáveis pela transmissão hereditária
- Cromossomas
- ADN
- Genes
ADN- Componentes e estrutura
O ADN é uma substância química constituída por quatro substâncias químicas (bases azotadas):
Genes
Os cromossomas são constituídos por vários genes que são responsáveis por diferentes características.
Os genes são segmentos de ADN organizados em nucleótidos com uma determinada sequência. É um segmento de um cromossoma com um código próprio que contém informação para produzir uma característica determinada.
Existem:
- Genes dominantes que produzem efeitos mesmo que estejam só presentes num dos cromossomas do par.
- Genes recessivos que produzem efeitos quando estão presentes nos dois cromossomas do par.
Apesar de existirem vários tipos de genes podemos destacar os genes de desenvolvimento que possuem funções como planificar a construção do organismo e são fundamentais no processo de constituição da espécie e do indivíduo.
A meiose é um processo de divisão das células sexuais que ocorre durante a fecundação. O número de cromossomas reduz-se para 23, assegurando deste modo os 46 cromossomas característicos da espécie humana.
Este processo de divisão é uma das condições de variabilidade genética, isto é o conjunto de variações genéticas que existem entre os membros de uma população.
2-Influências genéticas e epigenéticas no comportamento
Hereditariedade específica e individual
Hereditariedade específica é a informação genética que é responsável pelas características comuns aos elementos de uma espécie, determinando a constituição física e alguns comportamentos.
Hereditariedade individual corresponde à informação genética responsável pelas características de um indivíduo e o que o distingue de todos os outros membros da sua espécie, o que o torna um ser único.
Genótipo e Fenótipo
O genótipo corresponde um conjunto de genes do qual um indivíduo é dotado aquando da sua concepção e que resulta do conjunto de genes provenientes da mãe e do pai. O genótipo é portanto, o projecto genético de um organismo, é o conjunto de caracteres tal como são definidos pelos genes.
O fenótipo designa a aparência do indivíduo, ou seja, são as características observáveis (anatómicas, morfológicas e fisiológicas), que resultam da interacção entre o genótipo e o meio ambiente onde ocorre o desenvolvimento
Preformismo e Epigénese
O indivíduo é o resultado da combinação dos factores hereditários e dos factores ambientais.
A teoria da epigénese diferencia-se do preformismo pois afirma que o meio ambiente tem muita importância. No processo do desenvolvimento, ocorrem potencialidades que, não estando presentes no ovo, se desenvolvem por acção do meio.
3- A Complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico
Filogénese e Ontogénese
A filogénese e a ontogénese designam processos relativos ao desenvolvimento.
A filogénese é o conjunto de processos biológicos de transformação que explicam o aparecimento das espécies e da sua diferenciação, ou seja, a filogénese reporta-se à história da espécie e evolução dos seres vivos.
A ontogénese designa o desenvolvimento e modificação do indivíduo no decurso da sua vida, ou seja, desde a fecundação até à morte, reportando-se assim a ontogénese à história individual. São as transformações ontogénicas que possibilitam a adaptação do indivíduo ao meio. Por isso se pode afirmar que a ontogénese determina a filogénese.
Lei da recapitulação
A Lei da recapitulação surgiu nos princípios do século XX que defende que o desenvolvimento do indivíduo depende apenas dos factores biológicos. Segundo esta teoria, a ontogénese recapitula a filogénese, ou seja, o embrião, ao desenvolver-se, reproduz os estádios de evolução da vida das espécies.
Entre as várias criticas à lei da recapitulação, destaca-se a que afirma que o desenvolvimento do indivíduo depende da interacção entre os factores genéticos e os factores ambientais, condição da adaptação dos seres ao meio.
Programa Genético
Podemos afirmar que todos os seres vivos estão programados. A generalidade dos animais tem um comportamento predefinido, inato, têm o que designamos por programa genético fechado, que prevêem de forma determinada, processos evolutivos, comportamentos característicos de determinada espécie.
Há no entanto uma grande diferença entre os seres vivos “totalmente” programados e outros animais que são parcialmente programados. No ser humano, essa programação é menos significativa, por comparação com outros animais uma vez que estamos susceptíveis à mudança e às influências do meio ambiente, logo o programa genético do ser humano é aberto e é isso que nos diferencia dos animais.
Prematuridade e neotenia
O ser humano é um ser prematuro, no sentido em que não apresenta as suas capacidades e as suas competências desenvolvidas, ou seja, o ser humano nasce inacabado. A sua imaturidade explica por que razão a infância humana é tão longa: é o período de acabamento do processo de desenvolvimento que decorreu na vida intra-uterina. O carácter embrionário do bebé torna-se uma vantagem, porque o longo período de imaturidade é essencial para a sobrevivência e adaptação da espécie.
A neotenia designa o atraso no desenvolvimento que faz com que o individuo se desenvolva mais devagar, dependendo durante muito mais tempo dos adultos. São os genes de desenvolvimento que fazem do ser humano um ser neoténico, isto é, um “animal” em que há um prolongamento da morfologia juvenil até à idade adulta.
Vantagens do inacabamento humano
O programa genético aberto, a prematuridade do ser humano e a consequente necessidade de continuar a desenvolver-se após o nascimento constituem uma vantagem, porque possibilitam o desenvolvimento de muitas capacidades e competências no contexto das interacções sociais tendo deste modo uma versatilidade e plasticidade adaptativa.
1-Elementos estruturais e funcionais do sistema nervoso
O sistema nervoso é composto por um conjunto de estruturas, que integradas, são responsáveis pelos nossos comportamentos: desde os mais simples, como os nossos reflexos, aos mais complexos, como o pensamento, a memória, a imaginação a linguagem.
Existem três tipos de mecanismos que contribuem para o bom funcionamento do sistema nervoso:
Mecanismos de recepção são os órgãos que recebem os estímulos do meio interno ou externo, exemplo disso são os órgãos dos sentidos (visão audição, tacto..)
Mecanismo de coordenação são o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico, ambos os sistemas são muito complexos e coordenam as informações recebidas pelos receptores e determinam as respostas concretizadas pelos efectores.
Mecanismos de reacção- são sobretudo os músculos e as glândulas que são os responsáveis por efectuarem as respostas, ou seja, concretizam a reacção dos estímulos.
Neurónio
O sistema nervoso é constituído fundamentalmento por dois tipos de células: as células nervosas ou neurónios e as células gliais.
Os neurónios são células especializadas responsáveis por grande parte das funções do sistema nervoso. Enquanto as células gliais facultam os nutrientes, como o oxigénio e a glicose, que alimentam, isolam e protegem os neurónios. É este tipo de células que controla o desenvolvimento dos neurónios ao longo da vida.
Constituição do neurónio:
Corpo celular
Dendrites
Axónio
Tipos de neurónios:
Neurónios aferentes ou sensoriais- transmitem as mensagens da periferia para os centros nervosos
Neurónios eferentes ou motores- transmitem as mensagens dos centros nervosos para os órgãos efectores (músculos e glândulas)
Neurónios de conexão- interpretam as informações e elaboram as respostas.
Comunicação nervosa
A comunicação nervosa consiste em transmitir mensagens de um grupo de neurónios para outro grupo. Dá-se o nome de impulso nervoso ou influxo nervoso à informação que circula entre os neurónios
É através da sinapse, zona de interacção entre neurónios, que as mensagens são transmitidas. As mensagens nervosas ocorrem por processos electroquímicos. A energia nervosa é de dois tipos: a que passa das dendrites pelo corpo celular para o axónio é eléctrica já a energia química é a que passa ao nível da sinapse pelo efeito dos neurotransmissores. Os neurotransmissores, emitidos pelo neurónio pré-sináptico, atravessam a fenda sináptica (espaço compreendido entre os neurónios) e são captados pelos receptores do neurónio pós-sináptico.
2-O funcionamento global do cérebro
Sistema nervoso
O sistema nervoso é constituído por um conjunto de estruturas que recebem a informação, comunicam-na e organizam os comportamentos. Podemos distinguir os mecanismo de recepção (órgãos dos sentidos), que recebem a informação, os mecanismos de coordenação ( sistema nervoso central e periférico) e os mecanismos de reacção (músculos e glândulas).
- Sistema nervoso central
O sistema nervoso central é constituído pela espinal medula, que tem a função condutora e coordenadora, e o encéfalo.
Espinal Medula
Atendendo a que a espinal medula é estruturalmente o prolongamento do cérebro, desempenha a função de coordenação (sistema nervoso central) em relação à actividade reflexa (resposta involuntária e automática a um estímulo), evidenciando a relação entre: os órgãos receptores/nervos sensoriais/espinal medula/nervos motores/órgãos efectores.
Também desempenha a função de condução (sistema nervoso periférico) na medida em que transmite mensagens para, e do cérebro, através dos nervos sensoriais e nervos motores, respectivamente, permitindo o contacto com o meio interno e externo, e o cérebro.
Funcionamento sistémico do cérebro
Apesar de estar dividido em zonas com funções específicas, o cérebro trabalha como um todo, ou seja, como uma rede funcional. Assim, todos os fenómenos de aprendizagem, linguagem, memória, etc, são dependentes do funcionamento integrado de várias áreas corticais.
Por exemplo, se, por acidente, houver perda de uma função cerebral, acontece muitas vezes que uma área vizinha se responsabiliza pela função da área lesionada. É a função vicariante ou de suplência. É o que acontece quando, devido a um acidente cerebral, trombose, coma, etc, as pessoas perdem a fala e depois recuperam-na. Esta capacidade deve-se à plasticidade do cérebro, isto é, à redundância das funções cerebrais.
Assim, o cérebro funciona de uma forma sistémica porque é constituído por um conjunto de elementos em que as componentes especializadas são inter-dependentes e funcionam, de forma integrada. É um todo, um sistema unitário que actua de forma interactiva e autónoma.
Hemisférios Cerebrais
O cérebro está dividido em dois hemisférios, cobertos por uma camada de massa cinzenta, o cortéx cerebral, cada hemisfério é especializado em funções próprias- lateralização cerebral
O hemisfério direito controla a formação de imagens, as relações espaciais, a percepção das formas, das cores, das tonalidades afectivas e o pensamento concreto.
O hemisfério esquerdo é responsável pelo pensamento lógico, pela linguagem verbal, pelo discurso, pelo cálculo e pela memória.
Apesar da especialização, os hemisférios direito e esquerdo funcionam de maneira complementar.
Cada hemisfério é constituído por quatro lobos: frontal, parietal, occipital e parietal.
Lobo (Função)
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Área
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Nome da Área
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Funções
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Consequências de Lesões
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Frontal
(coordena actividades motoras)
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Primária
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Motora
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Responsável pelos movimentos corporais
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Paralisia Cortical: paralisia na parte oposta do corpo, da lesão
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Secundária
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Psicomotora
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Responsável pela coordenação dos movimentos assegurando a sua eficácia
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Apraxia: não consegue vestir-se, utilizar objectos, ou coordenar e seleccionar os movimentos para efectuar uma determinada tarefa.
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Escrita
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Responsável pela escrita
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Agrafia: incapacidade de escrever
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Broca
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Responsável pela linguagem articulada
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Afasia de Broca: deixa de articular a linguagem (formar palavras, lentidão na expressão verbal)
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Wernicke
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Responsável pela linguagem
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Afasia de Wernicke: articula palavras mas, é incapaz de formar um discurso coerente e não consegue perceber o que os outros falam
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Parietal
(coordena sensações relacionadas com a pele)
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Primária
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Somatestésica
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Receber informações que têm origem na pele e nos músculos
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Anestesia Cortical: perda da sensibilidade da área correspondente no corpo
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Secundária
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Psicossensorial
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Coordenar e sintetizar as mensagens da pele e dos músculos, integrando-se de forma organizada
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Agnosia Somatestésica ou Somatossensorial: capacidade de um indivíduo reconhecer os objectos através do tacto: com a lesão os dados não são sintetizados e o objecto não é identificado
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Occipital (coordena a visão)
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Primária
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Visual
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Receber mensagens enviadas pelos olhos (“retina cerebral”)
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Cegueira Cortical: impossibilidade de receber informações dos estímulos visuais
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Secundária
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Psicovisual
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Coordenar os dados elementares e o reconhecimento dos objectos
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Agnosia Visual: incapacidade de identificar objectos
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Centro de Reconhecimento da Palavra Escrita
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Responsável pelo reconhecimento da palavra escrita
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Alexia ou Cegueira Verbal: impossibilidade de ler um texto, dado que não reconhece as letras, apesar de ver os sinais gráficos
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Temporal (coordena a audição)
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Primária
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Auditiva
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Receber sons elementares, detectando características de volume e altura
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Surdez Cortical: incapacidade de ouvir sons
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Secundária
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Psicoauditiva
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Interpretar, identificar, e analisar os dados recebidos, reconhecendo um som completo (palavras, melodias…)
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Agnosia Auditiva: ouve sons mas, é incapaz de lhe atribuir um significado
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Áreas Pré-Frontais
Estabelece relações com todas as outras áreas do cérebro.
Surge como um órgão coordenador e unificador da actividade cerebral.
É responsável pelo pensamento abstracto, atenção, reflexão, imaginação, e pelas capacidades de prever, planificar, deliberar, e tomar decisões emocionais.
Assegura a constância de personalidade.
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3-O cérebro e a capacidade de adaptação e autonomia de ser humano
O cérebro é um sistema unitário, que trabalha como um todo, de forma interactiva, caracterizando-se pela sua plasticidade. Ainda que ao nascer, o bebé tenha todas as áreas corticais formadas, o desenvolvimento cerebral continua a fazer-se de forma acelerada nos primeiros meses de vida.
A formação do cérebro não resulta de um programa preestabelecido: o meio tem um papel decisivo no desenvolvimento cerebral, antes e após o nascimento. O processo de desenvolvimento cerebral não se define apenas pelo aparecimento de neurónios e da sinapses: dá-se também através da selecção de redes neuronais, que passa pela morte de neurónios e pela supressão de sinapses. Este processo, que ocorre, ao longo da vida, não esta geneticamente determinado pois depende das interacções com o meio e das experiencias vividas pelo sujeito. As conexões sinápticas são moldadas pelas experiencias dos sujeitos, o que é uma das razoes que explica que os gémeos homozigóticos não apresentem as mesma redes hormonais.
O inacabamento do cérebro humano ao nascer e o lento processo de desenvolvimento pós-natal (lentificação) vão constituir uma vantagem, ao possibilitar uma estimulação maior e mais prolongada do meio. Os efeitos do meio intra-uterino e as experiências ao longo da vida são elementos fundamentais para o processo de individuação. É a imaturidade do cérebro humano e a sua plasticidade que vão proporcionar aos seres humanos a possibilidade de desenvolverem um conjunto de capacidades que os distinguem dos outros animais e de aprenderem ao longo da vida. Esta plasticidade (flexibilidade) permite uma adaptação, ao meio mais eficaz e mais criativa. São a condição de aprendizagem ao longo da vida.
1- Factores no processo de tornar-se humano
Ser humano é mais do que pertencer a uma espécie, à qual corresponde uma determinada informação genética, responsável pelas características biológicas comuns. É igualmente pertencer a contextos sociais e culturas particulares, onde aprende formas de ser e de se comportar: a fragilidade biológica confere a vantagem de aprender no contexto das interacções sociais. Adaptando-se ao mundo e adaptando-o a si, o homem é um produto e um produtor de Cultura.
Noção de cultura
A cultura é uma totalidade onde se conjugam, organizados de forma dinâmica , diversos elementos materiais e simbólicos:
· Crenças, diferentes religiões, ideologias políticas, representações sobre o mundo, e natureza humana;
· Teorias, científicas e filosóficas;
· Construções e artefactos, ex. casas, pontes, computadores, satélites, roupas;
· Valores, atributos ou qualidades concedidos a objectos, comportamentos ou atitudes;
· Leis e normas, regulam e orientam a vida em comum;
· Artes, actividade que manifesta ideias e emoções;
· Hábitos e costumes, modos convencionais de interagir socialmente.
Relatividade cultural
Se a cultura é um fenómeno universal, por outro lado não existe uma uniformidade de resposta na adaptação do homem às situações que se lhe deparam. Deste modo, a organização do trabalho, a educação, as leis e normas de convivência, a estrutura e relação entre os grupos sociais, os valores religiosos, estéticos...dão lugar a diferentes interpretações e reflectem formas particulares como as comunidades organizam a vida social a partir de um enquadramento espacio-temporal.
A relatividade cultural permite identificar uma diversidade cultural que se manifesta na existência de vários padrões culturais.
Padrão cultural
Padrão de cultura designa o conjunto de comportamentos, práticas, crenças e valores comuns aos membros de uma cultura, ou de um grupo social, os quais têm um carácter normativo regulando a vida social. Ao traduzirem a identidade dos seus membros, são quadros de referência/interpretações, que permitem a construção de significados. Um padrão cultural não é uma realidade estática, cada padrão cultural muda permanentemente não só pela acção criadora, produtora de cultura, de cada um dos seus membros, mas também através do contacto com outras culturas.
Aculturação
As culturas não são rígidas, nem fechadas, reinterpretando os seus próprios sistemas através do contacto e relação que estabelecem com outras culturas diferentes. A aculturação designa os processos complexos de contacto cultural através dos quais as sociedades, ou grupos com modelos originais, sofrem influências devido ao contacto com outros modelos.
A colonização e a emigração, deram lugar à reformulação das práticas, costumes e crenças originais, mas também os meios de comunicação social, o turismo, as trocas comerciais propõem, nos dias de hoje, novos modelos comportamentais que são objecto de selecção, sendo reintegrados ou rejeitados a partir dos projectos culturais de cada cultura original.
Socialização
A socialização é o processo de integração do indivíduo numa determinada sociedade. É através deste processo que o humano aprende e assimila comportamentos e condutas, modos de estar e pensar que lhe permitem inserir-se numa sociedade e relacionar-se com os outros
A socialização é um processo dinâmico, interactivo e contínuo que decorre ao longo de toda a vida num percurso permanente de integração social, sendo possível fazer a distinção entre dois tipos de socialização: primária e secundária.
Socialização Primária
A socialização primária ocorre na infância e adolescência por influência privilegiada da família e escola, e tem como objectivo a aquisição de um conjunto de hábitos necessários para a adaptação a situações diversas da vida quotidiana. Neles se incluem hábitos de higiene, alimentação, cumprimento de instruções, uso da linguagem, cortesia, respeito (saberes de base).
Socialização Secundária
A socialização secundária é o processo que se inicia a partir da idade adulta e se prolonga pela vida sempre que o indivíduo tem que se adaptar a situações novas que impliquem alterações significativas na sua condição social. A mudança de estado civil, o nascimento dos filhos, a entrada no mundo do trabalho, o pagamento de impostos, ser preso, ficar desempregado, passar à reforma, adquirir um cargo num partido, associação..., são alguns exemplos de socialização secundária (saberes especializados).
Agentes de Socialização
A maior parte da socialização é efectuada na experiência da vida quotidiana, por assimilação espontânea, natural. A família, mas também a escola, os pares e os meios de comunicação social são agentes de socialização. A família coloca-se como um agente prioritário de socialização que permite que a criança adapte os seus comportamentos biologicamente determinados às práticas culturais do grupo social a que pertence.
- A escola transmite conhecimentos científicos e tecnológicos, que o permitem integrar no mundo do trabalho/produção, bem como promove a integração na sociedade em que o indivíduo se coloca como cidadão possuidor de direitos e deveres.
- O grupo de pares, ou seja no grupo de indivíduos com idade aproximada irá desenvolver-se relações de solidariedade, cooperação, sentimentos de reciprocidade, de autonomia, interdependência e identidade social, num processo de aquisição de competências de comunicação eficazes.
- Os meios de comunicação social(TV, rádio, cinema, revistas, jornais, Internet) constituem-se na sociedade contemporânea como importantes agentes de socialização, veiculando modelos de comportamento que irão ser objecto de imitação e reprodução.
O processo de socialização não termina na infância com a socialização primária, ele irá prolongar-se ao longo da vida sempre que o indivíduo precise de se adaptar a novas situações que exijam o desempenho de novos papéis.
2-História pessoal: factores internos e externos
Apesar da sua influência mútua e fundamental, aquilo que nos tornamos a cada momento das nossas vidas não é só determinado pelo que somos em termos físicos e biológicos, nem pelo que nos rodeia em termos socioculturais. É necessário ter em conta a autonomia e a autodeterminação dos seres humanos e rejeitar a possibilidade de um determinismo, seja este biológico e sociocultural, quando se procura compreender a forma como cada um de nós sente, pensa e age. É enquanto corpo biológico e social que encontramos significados para os nossos pensamentos, emoções e acções e participamos portanto na sua determinação: de nós próprios e dos contextos em que vivemos. Pode se dizer que a experiencia do mundo, dos outros e de nós mesmos é um elemento fundamental da vida psicológica. A ligação que cada um estabelece com estas experiências faz-se através do significado.
É no significado atribuído que se realiza a síntese entre a singularidade de cada um e sua situação ou contexto: físico, biológico, sociocultural e histórico. A realidade em que cada um vive não é só uma realidade física, feita de objectos, de lugares, mas também uma realidade interpessoal construída a partir das compreensões partilhadas e comunicadas entre pessoas.
A história de cada um escreve-se no diálogo entre o que cada um é a cada momento, a forma como compreende o que acontece e o significado que cada experiencia adquire. A história pessoal desenrola-se no diálogo entre o que percebemos (objectivamente) de nós, dos outros, do mundo, do que os outros percebem, e o que subjectivamente construímos, acerca de nós, dos outros e do mundo.
Os seres humanos são seres auto-organizados, isto é, são seres que organizam eles próprios o seu fluxo de experiências e o tornam compreensível. É dessa forma que se constroem, agindo no mundo, organizando-se a si mesmos no sei envolvimento com o mundo.
Nas suas actividades, histórias, e na teia das suas relações e interacções, as pessoas são agentes não só de transformação de si e dos outros, mas também agentes de transformação das suas comunidades, sociedades e culturas.
A adaptação dos seres humanos não pode ser encarada de uma forma passiva, como se fosse a resposta a uma ordem e a um ambiente preexistentes. O seu papel é activo no que diz respeito à sua participação nos ambientes e às suas capacidades de auto-organização e autonomia.
3-A riqueza da diversidade humana
O ser humano partilha um conjunto de características próprias da espécie: locomoção bípede, polegar oponível, cérebro muito desenvolvido (hereditariedade específica). A hereditariedade individual assegura que somos únicos, dotados de um património genético único (diversidade biológica). Desde o nascimento que se faz sentir os efeitos do meio através das diferentes expressões culturais.
É no contexto das relações com o meio, com uma determinada sociedade e cultura que cada ser humano se desenvolve com características próprias (diversidade cultural). É na confluência da biologia e da cultua que cada ser humano se auto-organiza. Ao acumular e ordenar as experiencias vividas, ao atribuir e organizar os significados ao que vai acontecendo, cada ser humano constrói a sua história pessoal (diversidade individual). É na diversidade, na diferença de cada um realizar e organizar as várias dimensões que reside a riqueza do ser humano.
Nota: a matéria aqui apresentada foi baseada nos resumos do manual de psicologia e nos powerpoints apresentados pela professora na aula.